José Falcão foi o 14.º matador de touros português, como foi o primeiro a morrer na arena; como talvez pudesse ter sido o mais rico, na fama e no dinheiro, se o mundo taurino não tivesse sido para com ele de tamanha injustiça. Injustiça que foi como que um castigo do que era talvez o seu pecado maior: sair todas as tardes a entregar-se. (...)  
O mundo taurino não foi capaz de ser justo para com José Falcão. A muitos havia de apetecer serem justos com um matador assim completo, assim valente, assim companheiro, assim honrado, assim sem exigências. Mas não podiam. Os interesses são demasiado poderosos para serem vencidos com essas armas do valor e da honradez. E outras não tinha José Falcão.

Solilóquio, autor do livro “José Falcão-Justiça para um Valente”, foi o pseudónimo que João Cristóvão Moreira (1929-2013) escolheu para assinar as suas crónicas taurinas. Entre os anos de 1948 e 2000, escreveu centos delas, tornando-se uma referência da crítica da especialidade em Portugal, pela singularidade do seu modo de contar e pelo apuro estético duma escrita que fascinava aficionados e não-aficionados.
Em Solilóquio, o modo jornalístico de escrever cruza-se com a expressão literária, num estilo inimitável, porque pessoalíssimo. “Classificá-lo como crítico tauromáquico não é injusto – mas pode ser redutor. Solilóquio era um grande mestre da nossa língua”, salientou o escritor e crítico literário Francisco José Viegas, aquando da morte do cronista. “As crónicas taurinas de Solilóquio são textos literários de grande qualidade e são actos de inteligência”, corroborava Fernando Piteira Santos, historiador e jornalista.