A PRESENÇA DOS DIAS
Esta obrinha, agora confiada ao leitor, bem poderia levar como subtítulo A Certeza da Incerteza ou a Incerteza da Certeza.
Não está em causa nenhum jogo de palavras, nem qualquer espécie de niilismo ou cepticismo radical. Trata-se apenas de uma perplexidade epistemológica, exprimida a nível ontológico, cosmológico e teológico, mas que não se radica numa maiêutica filosófica, antes na constatação, vivenciada interiormente, de que o paradoxo faz parte da natureza das coisas.
Tal perplexidade é abordada pelo lado da visão holística, em que os contrários não se polarizam ou anulam, no sentido em que conceptualmente os consideramos: antes coincidem, imbricadamente, na sua «oposição», sem, todavia, remeterem para qualquer espécie de monismo ou panteísmo.
Disso dão conta estes desgarrados fragmentos de contemplações íntimas, recolhidos ao longo do tempo, e que parecerão a muitos, e com razão, desconexos, senão mesmo, frequentemente, paradoxais.
SOBRE O AUTOR
Adalberto Alves deve ser dos poucos que, chegados ao Outono da sua vida, sabem que dentro de si arde uma chama de perpétua juventude, a conquista de se ter caminhado a si próprio. Chama que no seu olhar expressa-se com ser melancolia e compreensão, a de quem se reconciliou, depois de uma vida de combates, com o severo olhar do Tempo, pai de todos os deuses... Incansável viajante, árabe de coração e, quem sabe nas suas lembranças,... Enamorado, como todo o místico, dos resplendores da sua própria alma. Na sabedoria dos eremitas do deserto - ou dos morábitos do Portugal islâmico - ou nas entrelinhas do discurso de Krishnamurti, no qual desaparecem Amante e Amado, mestre e discípulo, ficando o homem desnudo envolto pelo silêncio.