O que aqui é contado aconteceu,
aconteceu mesmo, e comigo
Uma narração verbal, escrita ou gestual é limitada pela
capacidade de expor, pelos traços de personalidade, por
variáveis emocionais e cognitivas, pela memória de quem,
com rigor e minúcia, pretenda relatar uma ocorrência.
Admitindo que “quem conta um conto acrescenta um ponto”
e não faltando o que possa parecer ficção, narro o acontecido
comigo, podendo uma ou outra descrição ser menos exacta
ou pecar por defeito, rara e involuntariamente por excesso.
Em paralelo com 70 de vida 60 em viagem, iniciei por conta própria no Japão, em Novembro de 2019. Regressado a Lisboa, prossegui a escrita aproveitando a inconveniência de não me ter ausentado do país devido à pandemia de Covid 19. Isso, e um fundamental entusiasmo, concederam-me tempo para reflectir acerca das minhas deambulações planetárias.
Andara por centros históricos, monumentos, museus, locais de culto, sagrados e profanos, pela natureza, pelo que era servido por bons acessos e condizentes meios de transporte. Todavia, não tinham sido os destinos
fast food, com vinheta de certificada segurança, que me haviam chamado, embora por vezes não os evitasse. Pelo contrário, mobilizara-me o que sonhara, o que nem vira num ecrã, essencialmente o conhecimento das gentes à margem dos circuitos massificados, os pormenores do quotidiano que tendiam a passar ao lado das atenções concentradas no tido como “imperdível”.
Identificando-me com a genuinidade e o inusitado, assumira os
imprevistos e o ónus do risco.
Decorrido um ano de escrita parei para repensar o trabalho realizado e confrontei-me com um dilema: publicaria um volume único que rondaria as 500 páginas ou repartia os episódios por dois ou mesmo três? Elegi a terceira opção. Segundo de três volumes dedicados à mesma temática, os episódios são independentes dos demais, transitando de continente, de país e de ambientes, sendo arbitrária a ordem pela qual podem ser lidos.
Ficarei satisfeito se este livro estimular alguém a espreitar horizontes que nunca lhe tenham merecido um olhar. Quando tal não seja possível, talvez haja quem, no seu conforto, me acompanhe nos trilhos das minhas exequíveis fantasias, algumas apenas “perigosas” ou “complicadas”. Em criança perseguia-as acordado. Entrado nos anos, veterano de inestimáveis vivências, persisto na busca de as concretizar, uma forma vitalícia de, até em páginas impressas ou num ecrã, viajar e aprender… por conta própria.