Uma edição muito especial
Encomendado pela prestigiada revista alemã Organ – Journal für die Orgel (Schott), este CD foi gravado em – Junho de 2006 e contém exclusivamente obras de compositores portugueses dos séculoa XVI a XIX. É o primeiro cd editado internacionalmente com este tipo de repertório executado por um organista português.
António Carreira (Portugal, c.1530-c.1594)
1 Fantasia em Ré
2 Fantasia em Lá-Ré
Manuel Rodrigues Coelho (Portugal, c.1555-1635)
3 Kirios de 1º tom (5 versos)
Diogo da Conceição (Portugal, séc. XVII)
4 Batalha de 5º tom
5 Meio registo de 2º tom acidental
Manuel Rodrigues Coelho
6 Segundo tento de 2º tom
Pedro de San Lorenzo (Portugal/Espanha, séc. XVII)
7 Obra de 1er tono de registro de mano yzquierda
Pedro de Araújo (Portugal, ?-c.1662)
8 Meio registo [de dois tiples] de 3º tom
9 Obra de passo solto de 7º tom
Carlos Seixas (Portugal, 1704-1742)
10 Sonata para órgão em Sol maior
Sonata em dó menor
11 [Moderato in tempo di siciliano]
12 Minuet
13 Sonata para órgão em lá menor
Fr. Jacinto do Sacramento (Portugal, séc. XVIII)
14 Sonata em ré menor
Fr. Francisco de S. Boaventura (Portugal, late 18th c.)
15 Sonata em Sol maior
Anónimo (Portugal, séc. XVIII-XIX)
16 Sonata para órgão em Dó maior
O órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora
O Convento de São Vicente de Fora foi fundado por D. Afonso Henriques em 1147. Depois do terramoto de 1755, e depois de realizadas as reparações mais urgentes, estabeleceu-se ali a Santa Basílica Patriarcal. Atrás do altar fica o coro, muito amplo, formando a cabeceira da cruz, em cujo topo, instalado sobre uma imponente tribuna alta, está o órgão, construído em 1765 pelo organeiro João Fontanes de Maqueira.
Com a vantagem de se encontrar em estado quase original, trata-se de um dos mais importantes e representativos instrumentos barrocos portugueses. O instrumento possui duas secções independentes, órgão principal e órgão de eco, a que correspondem dois teclados manuais de 47 teclas.
O órgão da Igreja de São Vicente de Fora sofreu reparações de pouca monta em finais do século XIX, em 1956-1957 e em 1977, tendo algumas peças sido transformadas ou substituídas por peças novas. Por ocasião da Capital Europeia da Cultura, a Sociedade Promotora de Lisboa ’94 encomendou o completo restauro do órgão, altura em que foi desmontado por completo e repostos os materiais originais.
Foi na ocasião deste restauro que passámos a conhecer a data de construção do órgão da Igreja de São Vicente de Fora e o nome do seu construtor, inscrito no secreto do órgão de eco: «Há feito de novo em o anno de 1765 Joao Fontanes de Maqueira».
João Vaz
João Vaz estudou em Lisboa com Antoine Sibertin-Blanc e em Saragoça com José Luis González Uriol. Para além dos seus estudos regulares frequentou cursos com professores como Édouard Souberbielle e Joaquim Simões da Hora. É também doutor em Música e Musicologia, com uma tese sobre música portuguesa para órgão do final do século XVIII.
João Vaz desenvolveu uma carreira internacional quer como executante quer como docente em cursos de aperfeiçoamento organístico, e efectuou numerosas gravações em órgãos históricos portugueses. É também o autor de vários artigos sobre música portuguesa para órgão. Foi consultor em diversos restauros de órgãos, nomeadamente no recente restauro dos seis órgãos da Basílica do Palácio Nacional de Mafra.
Presentemente lecciona na Escola Superior de Música de Lisboa. É o director artístico do Festival de Órgão da Madeira, assim como das séries de concertos em Mafra e no órgão histórico da Igreja de São Vicente de Fora em Lisboa, instrumento de que é organista titular desde 1997.

O Órgão da Igreja de S. Vicente de Fora
O Convento de S. Vicente de Fora, casa lisboeta dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, foi fundado por D. Afonso Henriques em 1147. A pedra fundamental do edifício que hoje existe foi lançada em 25 de Agosto de 1582 pelo Cardeal-Duque Alberto, governador de Portugal por Filipe II, concluindo-se as obras de pedreiro no interior do corpo da igreja em 1629 e inaugurando-se nesse ano, em cerimónia solene a 28 de Agosto, a capela-mor. Após o terramoto de 1755, e depois de realizadas as reparações mais urgentes, estabeleceu-se ali a Santa Basílica Patriarcal. Por detrás do altar fica o coro, muito amplo, formando a cabeceira da cruz, em cujo topo, instalado sobre uma imponente tribuna alta, está o órgão que, desde 1994, sabemos construído em 1765 pelo organeiro João Fontanes de Maqueixa.
Com a vantagem de encontrar-se em estado quase original, trata-se de um dos mais importantes e representativos instrumentos barrocos portugueses, a par dos órgãos da Sé Catedral de Braga, construídos entre 1737 e 1739 pelo organeiro galego Fr. Simón Fontanes, porventura parente do construtor do órgão de S. Vicente de Fora.
O instrumento possui duas secções independentes, órgão principal e órgão de eco, a que correspondem dois teclados manuais de 47 teclas (teclado inferior; órgão de eco; teclado superior; órgão principal), na extensão de Dó1 a ré3 com «oitava curta». Dispõe o órgão principal de 38 meios registos e o órgão de eco 21, encontrando-se quatro destes (Nazardo III, Flautado de 12, Corneta VI e Clarim) encerrados numa caixa de ecos, cuja abertura é comandada por um estribo de ferro. A canaria soante conta com 2827 tubos labiais, sendo 65 de madeira, e 282 tubos de palheteria. Tem além disso um Tambor, dispositivo de seis tubos, quatro em madeira e dois em metal, accionados por dois pedais, que produz um som cavo, semelhante ao instrumento de percussão.
O órgão de S. Vicente de Fora sofreu reparações de pouca monta em finais de século XIX, quando o diapasão original do instrumento foi subido, em 1956-1957, pelos organeiros José e José Sampaio, que limparam a canaria e instalaram um fole novo alimentado por um ventilador eléctrico e, em 1977, de novo pela oficina de João Sampaio & Filhos, que introduziu peças de plástico, pele artificial e colas sintéticas na mecânica e transformou os teclados. Por ocasião da Capital Europeia da Cultura, a Sociedade Promotora de Lisboa ’94 encomendou o completo restauro do órgão a Claudio e Christine Rainolter, com oficina em Tarazona, Província de Saragoça, os quais, auxiliados por Nicholas Michael Watson e assessorados pelo organista Joaquim Simões da Hora, empreenderam os trabalhos entre Novembro de 1993 e 12 de Outubro de 1994, desmontando o órgão por completo e repondo os materiais originais.
Foi na ocasião deste restauro, quando se abriram os someiros e os respectivos secretos, que passámos e conhecer a data de construção do órgão de S. Vicente de Fora e o nome do seu construtor, inscrito no secreto do órgão de eco: «Há feito de novo em o anno de 1765 Joao Fontanes de Maqueira». Este organeiro, construiu em 1763 o órgão da capela do Seminário Maior de Coimbra. Numa memória descritiva do restauro do órgão de S. Vicente de Fora, La restauracion del organo de São Vicente de Fora 1765-1994, Claudio e Christine Rainolter aventam a hipótese deste instrumento aproveitar alguma canaria de outro órgão menor (designadamente, os actuais Flautados do órgão principal) construído pouco antes do terramoto de 1755 por Fontanes de Maqueixa.
João Pedro d’Alvarenga