DO CAOS PARA O COSMOS

Os livros de Adalberto Alves contêm poemas marcantes na actual literatura portuguesa.

Notável conhecedor da densidade humana, o Autor avança pelos outros, desocultando-os, para melhor os ocultar, através de uma ética e estética incomuns.

Escritor, investigador, poeta, ensaísta, arabista e conferencista, desdobra-se em iniciativas e géneros dinamizadores de uma carreira de referência.

Nela, a palavra, as associações e as intenções são semeadas com cumplicidade irrecusável. O mágico, o sensual, o iniciático, o indizível atingem respirações invulgares.

A paixão pelo superior excepcionalizou-o desde cedo. Personalidade de acrescentamentos, concilia, como poucos, pensamento e acção, afectuosidade e firmeza, harmonia e ruptura, individualismo e universalismo.

Sem desistências nem azedumes, fez-se navegante de lucidez invulgar. Muita vida há na sua expressão, muita fluidez e muita fundura, conseguidas com a serenidade dos que dominam o sofrido.

Dotado de capacidades de observação invulgares, que a inteligência e a vivência decantaram, mas não amarguraram, o Autor afirmou, sem cedências, espaços próprios logrando uma maestria de rara intensidade.

Adalberto Alves é um desses seres que sabem encontrar caminhos, afirmar-se diferente, solidário, sensível; que tem na inteligência e na persistência mapas sem recuo.

Discreto, secreto, encetou a sua afirmação fora das correntes dominantes, norteado por uma exigência inamovível.

“A divulgação que faz da cultura árabe, que acompanho atentamente, é de uma importância decisiva entre nós”, anotará, sobre ele, Agostinho da Silva. Que acrescenta: “ A sua obra ajuda a recriar o mundo, a tirá-lo do caos para o cosmos”. 

Fernando Dacosta