Alves Redol. Fotobiografia. Fragmentos autobiográficos.
Alves Redol. Fotobiografia. Fragmentos autobiográficos foi concebido e executado por António Mota Redol, filho do consagrado escritor, que assim traz a público numerosas fotografias, documentos e detalhes biográficos até agora conservados no espólio familiar.
A obra, profusamente ilustrada e incluindo várias imagens e documentos inéditos, constrói-se em torno de uma extensa cronologia em que seguimos ano a ano, desde a infância, a vida familiar, pessoal, literária e cidadã de Alves Redol. Com ela, é também um pouco do Portugal da época que aqui se revela.
Uma selecção de fragmentos dos romances, entrevistas, textos e palestras de Alves Redol contendo elementos autobiográficos foi realizada para esta obra por Vítor Viçoso, professor aposentado da Universidade de Lisboa, estudioso da literatura portuguesa.
Alves Redol. Fotobiografia. Fragmentos biográficos inclui ainda uma lista de todas as primeiras edições das obras de Redol com reprodução das suas capas, muitas delas da autoria de Manuel Ribeiro de Pavia, bem como de algumas de traduções noutras línguas.

Alguns fragmentos autobiográficos constantes no livro
«– Quais as condições de aparecimento do chamado neo-realismo?
– As geradas por uma nova etapa histórica no caminho da humanidade. Para um colectivo anseio social tinha de surgir uma outra expressão literária. E assim como esse anseio é a nova síntese das contradições da sociedade, assim o neorealismo pretende ser a síntese de todas as escolas literárias antecedentes.»
Entrevista ao jornal Itinerário, n.os
58-59 (Julho-Agosto 1946), Lourenço Marques
«Propus-me com Gaibéus criar um romance antiassunto, ou, melhor, antihistória, sem personagens principais que só pedissem comparsaria às outras. O tema nasce no colectivo de um rancho de ceifeiros migradores, acompanha-lhes os passos desde a chegada à partida da lezíria ribatejana […]», p. 48
«Breve memória» (1965) em Gaibéus, 6.ª ed.
«E por ali andei com eles, pescando à noite com as artes mais pequenas, ou partilhando o trabalho dos lances nas companhas do sável entre queixas dos mais velhos ainda lembrados dos tempos em que o Tejo era um jardim de peixe. Tornei-me expedito no largar da rede-varina e acabei por ser solicitado a começar os lances em várias companhas – dava sorte, diziam.», p. 14
«Por decisão do conselho dos anciãos da Palhota, ficava convidado a apadrinhar o primeiro casamento que houvesse na aldeia. Queriam que eu pertencesse à família deles, assim me falaram.», p. 14
«Breve história de um romance»
(1967) em Avieiros, 5.ª ed. [1.ª ed. 1942]
Sobre o escritor
Alves Redol (1911-1969) foi uma figura cimeira da literatura portuguesa do século XX e um dos definidores, com os seus romances, da corrente artística do Neo-Realismo. Obras como Gaibéus, Avieiros, Fanga, Horizonte Cerrado, A Barca dos Sete Lemes, Barranco de Cegos, entre muitas outras, foram das mais vendidas na época e das mais requisitadas para bibliotecas locais. Alves Redol escreveu também para o teatro, o cinema, a rádio e a imprensa. Manteve uma intensa intervenção cívica e política, com destaque nas colectividades populares e na oposição à ditadura. Depois de 1974, a sua obra Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos foi utilizada durante muitos anos no ensino do Português nas escolas. Vários livros infantis e romances seus foram e ainda hoje são leitura recomendada nos programas escolares.