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Catálogo > Livros > Outros Temas > O Apelo da Índia

O Apelo da Índia

Maria José Vidigal

20,00 € 18,00 € (-10%)

A bela evocação que é esta obra, escrita pela minha amiga Maria José Vidigal, bem poderia chamar-se, utilizando o verso de Pessoa: as malhas que o Império tece…

Escrita há já alguns anos atrás, só agora, houve condições para a  sua publicação.
    É de memórias que se trata, subtraídas, com leves pinceladas à falácia do tempo, subindo os afluentes de uma genealogia feita de luso-descendentes da Índia, designação que ganhou foros de cidade relativamente aos portugueses que, durante séculos, caíram nas redes, para o melhor e para o pior, do feitiço do Oriente.
    O mérito deste trabalho de Maria José Vidigal está na forma sensível, e não raras vezes poética, com que tenta penetrar na alma e na psique dos seus ancestrais oriundos da Índia, o que faz com argúcia, empenho e amor.
    O prazer na descrição do detalhe deve certamente muito à sua formação de psiquiatra, actividade que desenvolveu durante longos anos, e da qual, em obra escrita, também deixou qualificado testemunho.

 

Não está, portanto, em causa “mais um” livro sobre o antigo Estado Português da Índia e sobre os goeses, mas antes uma abordagem muito especial, em que a sua sensibilidade feminina  e  profissão desempenham um relevante papel.Em numerosos aspectos, sobretudo no que diz respeito aos menos descritivos, nos quais sobressaem as vivências familiares ancestrais e  a afectividade, o trabalho da autora resgata do esquecimento, para os vindouros, estórias que são “células” da grande História, que iluminam sobremaneira os cambiantes das mentalidades.
É de sublinhar também a preocupação da autora em enriquecer a obra com oportunos enquadramentos históricos, políticos, geográficos, etnográficos e religiosos do tema, integrando-os no contexto da vasta Índia. Tal facilita ao leitor, não especialista, uma muito útil fonte de informação.

Sensibilidade e memória são, pois, os ingredientes que me ocorrem ao percorrer as páginas da presente obra, que têm a notável e instintiva sabedoria, de abster-se, quase em absoluto, de fazer juízos de valor sobre as paisagens  humanas que aborda.
Retrata-as antes em breves esboços de compreensão pelo Outro e, nas “pinturas” que faz, usa, em vez do traço preciso do óleo,  o esboço esbatido mas impressivo da aguarela.
O seu estilo é, por isso, e creio que deliberadamente, desconstruído, com uso abundante de reticências, como que a convidar o leitor a completar as descrições, que empreende, das pessoas, com o olhar da sua própria avaliação.
Creio que, com isso, nos presta um melhor serviço, posto que todos nós somos personagens sempre em construção: o mistério de cada ser humano, na sua abissalidade essencial, é inalcançável.
Cabe-nos a nós, enquanto escritores, cientes disso, tão-somente esboçar, mas nunca ter pretensões de completar o “quadro”, já que a vida é, por natureza, um quadro inacabado.
Jorge Luís Borges compara cada homem a uma imensa biblioteca. E, de facto, quando alguém desaparece, sem que nada, sobre esse alguém tenha sido escrito, é todo um misterioso diário de vivências que se perde. É  uma parcela de humanidade que nos deixa para sempre a caminho do sorvedouro do olvido.
Para além da minha amizade pela autora, uma outra circunstância tornou irrecusável, da minha parte, o convite para colaborar neste trabalho.
Refiro-me à presença importante, no desfiar de recordações do livro, da personalidade inesquecível do meu padrinho Dr. José Álvaro de Sousa e Brito (d’Ayalla), carinhosamente conhecido na sua Goa natal, pelo “petit nom” de Achito.   
 Aqui a autora, com imenso pudor, chama ao seu relacionamento com o Dr. Sousa e Brito “breve encontro”, mas eu não poderia deixar de acrescentar,  intenso e cúmplice, nada sendo mais apropriado do que a referência que ela, inconscientemente ou não, faz ao belo filme de David Lean, Passagem para a Índia, a que se poderia acrescentar, a justo título, também, e precisamente, o seu outro filme Breve Encontro.
De facto, a minuciosa, dedicada e paciente recolha e escrutínio dos fragmentos das memórias do meu padrinho são bem o testemunho de um grande afecto.
 As minhas próprias recordações do Dr. Brito, que andou comigo ao colo, e a quem tinha, desde a minha longínqua infância, uma devoção filial, corroboram o perfil que dele traça o presente livro.
Este activo luso-descendente da Índia, ligado, por nascimento, à velha aristocracia de Ribandar, a par de uma distinta carreira médica, de muitos anos, nos Estados Unidos – o  seu currículo científico fala por si – não abandonou nunca os traços mais marcantes do seu carácter. A irrequietude juvenil, que conservou  até ao fim da sua extensa vida, a errância pelas sete partidas, a curiosidade, a avidez de conhecer o “outro”, a modéstia, a sinceridade e a afectividade, foram as marcas mais destacáveis do seu nobre carácter.
Nos “anos de brasa” da sua vida, não podia ser esquecida, no mesmo plano,  a minha querida madrinha, Maria de Lurdes (Milú), sua companheira e esposa de longos anos, e mãe dos seus três filhos, a Paula, a Wanda e o José Carlos (que também veio a ser médico, mas que, infelizmente, morreu na flor da vida e a quem aqui presto também a minha homenagem). A minha madrinha, que me pôs o nome, foi para mim, até ao fim da sua vida, uma segunda mãe.
O Dr. Sousa e Brito tentou, já muito entrado na idade, outros dois casamentos de brevíssima duração e completamente frustrados, que nada acrescentaram, nem nada deixaram de marcante na sua vida, a não ser frustração e desgosto...
E este português da Índia, sonhador e errante, pode talvez ser um símbolo da irrequietude  que levou os portugueses até à Ásia e que era aquilo  a que Rocha Martins chamou certeiramente “curiosidade heróica”.
Nos seus últimos anos de vida, para além da publicação da suas Memórias, uma das grandes vontades dele era a republicação de uma obra de seu avô,  Frederico Diniz d’Ayalla, intitulada Goa Antiga e Moderna, obra essa então esgotadíssima e introuvable. Pediu-me que dessa tarefa me encarregasse, o que fiz pesquisando e preparando uma nova edição crítica e revista, com prefácio, notas e aditamentos de actualização. Todavia, quando, finalmente, após um moroso trabalho de investigação, a obra foi dada à estampa, o Dr. Sousa e Brito, dada a sua idade avançada, já nos tinha deixado...
Virada uma página da História, restou a muitos luso-descendentes apenas o regresso à Pátria matricial ou a nostalgia de sonhar com  novas rotas e diásporas.
Também eu guardo saudade das minhas viagens à Índia e ao Oriente e das muitas paragens que aí percorri. A minha inolvidável estadia em Goa, foi um resgatar da minha promessa nunca cumprida em vida do meu padrinho, por força do destino, de o visitar, durante o período em que ele lá voltou a viver, antes de regressar definitivamente aos E.U.A.
Por isso, aceitar o convite para dar a minha modesta colaboração nesta obra, constituiu, para além de um imperativo de amizade, um verdadeiro prazer.
Se “tudo o tempo levou”, não roubou, todavia, a memória dos luso-descendentes nem dos apaixonados pela excessiva, mítica e embriagante Índia, entre os quais de Pessoa, que a referiu em seus versos sem nunca a ter chegado a ver.
 A Índia pertence a todos esses que sonham ainda com os fabulosos esplendores orientais de eras que não voltam mais... A Índia em que, como escrevi um dia, os animais são deuses e  homens esfarrapados parecem santos, foi, também, a de Madre Teresa que, em Calcutá, derramou o seu amor e ternura por sobre os miseráveis intocáveis, prisioneiros de terrível karma que homens ainda consentem.
Sobre tal karma, e pondo-me na pele de um desses infelizes, escrevi, há muitos anos, este texto, em prosa poética:
Esta cabeça nunca me arrefece. Este ar que respiro não me serve. Preciso de mastros, de asas, de velas, de rotas desfeitas, de escorraçar as pálpebras de mim. Preciso de me dar aos quatro pontos cardeais e queimar este teatro absurdo em que os remadores remam demais. Se pudesse consentir uma só trégua ao aroma da noite terrível que me tolhe, talvez qualquer mineral ou mar ou folha rasa me trouxesse mudança radical.
                                                                                    (in, Volver ao Presente)

 

Rimsky Korsakow, talvez o mais orientalizante dos grandes compositores do Ocidente, compôs para a sua célebre ópera Sadko, aquela que é, seguramente, uma das mais belas árias da História da Música, que se chama, precisamente, Canção da Índia e cujos versos começam assim:
                                  A Índia tem em  seu remoto mar
                                  tesouros mil e prendas sem par...

 

ADALBERTO ALVES
                                                  

 

Ano de edição: 2021

Formato: 16x23

Encadernação: Capa mole com badanas

Páginas: 124pp a 1 cor e 8pp a 4 cores

Classificação: Outros Temas

 

O Apelo da Índia

 
 
     
 

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