Damos à estampa este livro de versos do Dr. José Sereto, livre-pensador, anticlerical, oposicionista, democrata, amante dos prazeres da vida, reguenguense dos quatro costados e primeiro presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz após o 25 de Abril.
A sua obra, agora transcrita por autorização da viúva, D. Maria do Carmo Sereto Vogado, originalmente manuscrita ou dactilografada, encontrou em Vasco Graça Moura um defensor da sua publicação, depois de ter visto no Embaixador José Cutileiro, que com o autor privou, um entusiasta da mesma.
Assim suportada em opiniões meritosas, esta publicação vem partilhar com um público alargado as criações que José Sereto meticulosamente deixou organizadas e que anteriormente trouxera às tertúlias literárias com que, nos idos dos anos quarenta e cinquenta do século passado, os reguenguenses mitigavam o fechamento da sociedade em que viviam. Através dos seus poemas, conhecemos, não só a personalidade do autor, como o retrato de Portugal de então, sobretudo da comunidade rural que José Sereto nunca quis abandonar.
A edição é enriquecida com iconografia do espólio da família do autor, assim como com reproduções de páginas de livros em que José Sereto ilustrava a sua leitura com desenhos feitos por si.
Prefácio do Embaixador José Cutileiro
‹‹Não busco com a ânsia dum possesso››
Não busco com a ânsia dum possesso
um estilo original, inimitável!
se tudo já foi dito, já foi expresso…
e às vezes de forma incomparável!
Com uma falsa ideia de progresso
exibe-se um mau gosto indesculpável.
Como se a novidade um processo
bastasse para o tornar recomendável!
Ser novo é coisa pouca. Só o génio
que resistir ao estrago de um milénio
o que o talento hauriu ao sopro interno;
O Espírito une as eras num abraço,
não muda nem no tempo nem no espaço,
há de ficar aquilo que é eterno.
José Sereto
Reguengos, 1942
(estes são os versos de abertura da presente edição)
Sobre o autor
José Rosa Sereto (1913 - 1983) obteve o bacharelato em Direito na Universidade de Lisboa, foi presidente da Comissão Instaladora da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz entre 1974 e 1976 e um dos fundadores do Partido Socialista em Reguengos de Monsaraz. Desempenhou também as funções de Chefe da Secretaria Judicial. Apesar de ter convites para exercer a sua profissão noutras regiões do país e até no estrangeiro, nunca quis deixar o concelho.