Este trabalho resulta da decisão de reflectir academi-camente sobre os fenómenos prisionais, sobre aquilo que justifica e explica que o centro da moral social moderna – as instituições judiciárias e judiciais – sejam surdas, cegas e mudas relativamente ao inferno que é, pela sua própria natureza, cada uma das prisões que sob a sua tutela directa funcionam. São a legitimidade e os benefícios políticos que daí decorrem para os poderosos, suportados pelos herdeiros(as) da filantropia e da caridade, o que explica e justifica tal boa(má)-fé. Foi isso que me ensinaram os presos em luta pela justiça dentro das prisões portuguesas, bem como as reacções que essas lutas provocam nas instituições, nos media e nas pessoas.
António Pedro Dores