ADALBERTO ALVES – VERTIGEM E ALTITUDE
Falo de Adalberto Alves (A.A.), poeta, pensador, escritor, ensaísta, arabista, historiador, conferencista e jurista e que é um dos nossos melhores no panorama da Literatura Portuguesa.

A sua poesia é a de um buscador incessante da luz do Conhecimento.
Para ele o Mundo é uma Pedra Sagrada onde se reflectem as faces do Deserto na sua infinidade, de variantes, assumindo nelas a estética da solidão, unidas à Vertigem do Ser, ou seja, como diz a historiadora e filósofa Marie-Madeleine Davy, no seu livro Le désert interieur:
“O homem acordado não sente mais a necessidade de recorrer a uma orientação externa, porque hé nele um lugar de paz silenciosa, na sua dimensão de profundidade, no seu fundo secreto”.
É este Oriente/Orientação que percorre a obra do poeta no seu eu mais profundo, nessa totalidade, nessa unidade que conecta o mundo exterior à vida interna.
Ele fala do Destino, que é o mesmo que abordar o Tempo, de um ponto de vista sufi.
O seu Destino cumpre-se na existenciação. Não lhe resta senão servir o Belo, dando-lhe corpo, dimensão e rigor exixtencial.
Diria que o nosso poeta-filósofo ocupa o centro de um quadrado, representando cada canto um elemento constituinte da pessoa humana, a saber: razão, sensorialidade, sentimento e intuição.
Tal centro define o equilíbrio.
E cito: “quando o homem rompe o equilíbrio das polaridades, o mal irrompe e Deus repõe a Harmonia através do seu rigor”.
A.A. cumpre a Maestria comparecendo à vitória do Conhecimento sobre a ignorância e realiza a Obra Alquímica que o fará descobrir os Grandes Mistérios, animado por um desejo de vida que o leva a superar-se, não sem dor, no laboratório da Escrita e do Pensamento, em permanente viagem.
Observe-se este trecho da sua obra Navegação Imperfeita:
“há uma velha pedra onde me sento,
a muitos dias de viagem, em pensamento.
sobre ela alcanço solidão, paz e alento.
aí descubro o fogo que o gelo derreteu.
e essa velha pedra, afinal, sou eu...”
Ora, na Câmara dos Ecos, em que vivemos, inseridos numa sociedade globalizante, a Obra de A.A. desvincula-se de tudo quando seja ignorãncia e/ou facilitismo.
Habitam-na Deserto, Solidão, Silêncio, Música, Luz, Noite e Treva, passaportes existenciais para a sua Viagem: uma Viagem reflectindo a condição humana no seu enfoque metafísico.
Também de hermetismo nos fala A.A., em sua poesia, apoiando-se na bússola invisível do Coração.
Os seus registos são intemporais.
A reflexão filosófica que os seus poemas indiciam é superada pelo sopro espiritual de um Universo Maior, pois ele sabe que “puros são os balbucios das crianças/quando nos estendem os bracinhos”.
O Poeta afirma também:
“aceito a minha vida como ceifa/ que em mim faz colheita do mistério/ que a algum lado, além, há-de ir dar.”
O seu tempo segue, em espiral: o Mundo, a Natureza e as letras com que desenha o Universo vão coincidindo, passo a passo, em verdadeira Geometria Sagrada.
Leia-se, no seu livro O Passo da Montanha:
ajoelhei-me numa prece
dobrando-me no solo.
por ti, Divina Natureza.
A.A. é incansável Peregrino, “árabe de coração”, enamorado como são os místicos e utilizando a visão interior para moldar a matéria-prima. É através desta visão que revela as várias formas da Palavra, indicando a sua posição ontológica no Universo: o fogo que transporta é o do Amor Absoluto e, assim, se oferece em Interioridade, e Intimidade e Ocultação.
Ele, enquanto Poeta, é o Incógnito do Sumo Bem, envolto num Manto de silêncio e Mistério, semeando Luz e Beleza pelo Caminho.
Nele vive a eterna chama.
Vejam-se estes versos:
“a meus olhos, de luz e escuridão,
se devem as sombras e as cores.
é de uma descida que se trata
pela escadaria das imagens.
os pés não servem para a subir.
só as asas da sede são capazes.”
Fora deste voo não há poeta nem poesia e somos convocados para entrar no Templo.
Uma veste inicial se torna necessária: a Túnica, o Cordão, o Livro da Vida e vamos fazendo o registo de “A Presença dos Dias” – título de um seu livro de aforismos – caminhando por cidades desertas e bebendo sombras.
Escreve também ele :
“A vida é uma plenitude que só faz sentido recebendo sofrimento e beatitude com igual aceitação.
Numa felicidade permanente, não passaríamos de lesmas entorpecidas; em sofrimento constante, pouco mais seríamos do que raivosas feras.”
Afinal, são segredos de um Sol prestes a soltar-se da Árvore da Vida, sob a forma do Verbo da Poesia.
Contemplemos o seu Palácio, em Altitude e Vertigem, com suas letras de fogo.
Essas são as jóias.
Tomo aleatoriamente, as páginas do referido livro de aforismos e lá aprendo:
“Nada do que possa ser dito, fora do absoluto silêncio, exprime a Essência do Fogo.”
MARIA AZENHA
Poeta, Professora e Matemática